sábado, 10 de maio de 2008

Grãos



Na produção de grãos (arroz, soja, feijão, milho) como de quaisquer outros produtos alimentícios no sistema orgânico, o trabalho se inicia com um criterioso manejo do solo. Na visão agroecológica, o solo é importante não apenas porque fornece nutrientes às plantas e lhes serve de suporte mas, também porque abriga muitas vidas representadas em fauna e flora capazes de favorecer a saúde e o desenvolvimento das plantas de um modo mais equilibrado e pleno. Daí nasce a concepção de tratar o solo como um "organismo vivo e complexo", que ao interagir com outros elementos como o ar, a água e a matéria orgânica, proporcionarão às culturas além de uma alimentação balanceada, o reforço às suas defesas naturais contra doenças e ataques de insetos.
Outro aspecto importante reside no melhoramento genético. A agricultura orgânica incentiva o resgate de plantas chamadas de "variedades" porque, colhendo os grãos e armazenando-os, estes podem ser replantados todos os anos pelo agricultor; além de as varidedades serem naturalmente mais adaptadas ao clima e solos locais. Mais resistentes à doenças e ao ataque de insetos, as "variedades" diminuem os custos do produtor orgânico com adubações e controle sanitários alternativos, trazendo uma economia em tempo e dinheiro bastante significativa.

Assim, além do resgate de plantas mais adaptadas aos solos e clima de cada região, e do manejo integral da estrutura e fertilidade do solo, uma estratégia válida para o sistema orgânico de grãos, consiste na adição de plantas agrícolas (café, frutíferas)ou florestais (palmito, seringueira, madeiras de lei, etc.). Tais plantas, chamadas "perenes" porque têm um ciclo de vida maior que dois anos, são inseridas no sistema a fim de se evitar que extensas áreas de terra sejam ocupadas por uma única cultura, como ocorre com a monocultura de grãos na agricultura convencional. Desta forma, a produção de grãos no sistema orgânico, ao não admitir a monocultura, também não apresenta os problemas ecológicos que provêm dela, como a erosão e o aumento no ataque de pragas e doenças. Na agricultura orgânica, o manejo de espécies distintas de plantas é sempre realizado para promover o equilíbrio ecológico e o vigor biológico do conjunto.
O que importa é ajustar tal conjunto de acordo com as necessidades do produtor e da comunidade locais, as condições ecológicas regionais e com o potencial de comercialização das espécies. Pois, sem considerar as dimensões social e econômica do sistema, o aspecto ambiental, mesmo que tecnicamente bem conduzido, terá poucas chances de permanecer no longo prazo.
Por fim, no que diz respeito ao processamento dos grãos produzidos no sistema orgânico, este é realizado de modo a preservar ao máximo as qualidades nutricionais e biológicas originalmente presentes nos grãos colhidos no campo. Por exemplo, o trigo passa por moinhos de pedra que conservam o gérmem do grão e, por conseqüência, as vitaminas A e E, assim como os lipídeos (gorduras) orginais do mesmo.
Já o arroz é integral, o que significa que dele não é retirada a casca que contém proteínas, vitamina B12 e fibras. Tais exemplos demonstram o que é regra geral dentro da produção orgânica: que o alimento reflete no prato a qualidade com que foi produzido no campo.

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